Alerta nas Férias: Casos de Ataques de Lacraias Aumentam e Todo Cuidado é Pouco

Todo verão acontece o mesmo roteiro: férias, viagens para praia ou sítio, mais tempo em áreas externas… e, de repente, surge o relato que assusta todo mundo: “Fui picado por uma lacraia”, “Acordei com dor e inchaço”, “Tinha uma centopeia dentro do meu sapato”. Esses casos se espalham rápido nas redes, geram pânico e, muitas vezes, fazem as pessoas tomarem decisões erradas — como tentar “matar no grito”, usar receitas caseiras perigosas ou ignorar sinais de alerta no corpo.

A verdade é que as lacraias (também chamadas de centopeias) são artrópodes peçonhentos relativamente comuns no Brasil, principalmente em ambientes úmidos, escuros e com esconderijos fáceis: jardins, ralos, caixas de gordura, frestas, montes de folhas, entulho, pilhas de madeira, pedras, vasos, calçados guardados e até roupas esquecidas num canto. Durante as férias, o risco aumenta por dois motivos simples:

  1. A gente muda a rotina: fica mais tempo descalço, senta no chão, mexe em plantas, caminha em quintais, pega lenha, abre armários fechados há semanas e usa itens guardados (tênis, cobertores, travesseiros).

  2. A gente muda de ambiente: pousadas, casas alugadas, sítios e casas de praia nem sempre recebem manutenção frequente. Um lugar fechado por dias vira “hotel” perfeito para bichos que gostam de sombra e umidade.

E aqui vai um ponto importante: na maioria das vezes, a lacraia não “ataca” por maldade. O que acontece é um encontro acidental em que o animal se sente ameaçado — quando é pressionado contra a pele (ao vestir um sapato, colocar uma camisa, deitar na cama, pegar uma tábua). O reflexo de defesa vem rápido, e a picada dói.


O que são lacraias e por que elas aparecem dentro de casa?

As lacraias pertencem ao grupo das centopeias, animais alongados, com muitos segmentos e várias pernas, rápidos e predadores. Elas caçam outros pequenos animais, como baratas, formigas, aranhas e até pequenos escorpiões em alguns contextos. Ou seja: por mais assustadoras que pareçam, elas entram onde existe comida e abrigo.

Dentro de casa, os pontos mais comuns de “rota” e esconderijo incluem:

  • Ralos (principalmente de banheiro, lavanderia e área externa)

  • Frestas em rodapés, batentes, portas e janelas

  • Áreas úmidas: atrás de máquinas de lavar, sob pias, perto de caixas d’água, jardins e canteiros

  • Entulho: caixas empilhadas, madeiras guardadas, telhas, folhas secas e restos de obra

  • Armários e depósitos com pouca ventilação e muita coisa guardada

Em casas de praia e sítios, isso fica ainda mais evidente porque é comum haver:

  • mais vegetação ao redor

  • presença de folhas, galhos e lenha

  • locais com pouco uso (quartos fechados, depósitos e varandas)

  • umidade elevada, especialmente em períodos chuvosos


Picada de lacraia: é perigosa mesmo? O veneno mata?

Essa é a pergunta que mais gera ansiedade. Em termos gerais, o veneno da lacraia é considerado pouco tóxico para humanos, e a maioria dos casos evolui bem com cuidados básicos. Porém, isso não significa que seja “tranquilo” ou que dê para ignorar.

A picada pode causar:

  • dor intensa (muitas pessoas descrevem como “queimação”, “agulhada forte” ou “dor pulsando”)

  • inchaço local

  • vermelhidão e sensação de calor no local

  • sensibilidade ao toque

  • em alguns casos: febre, tremores, suor, mal-estar, especialmente em pessoas mais sensíveis ou em picadas mais dolorosas

Também existe a possibilidade de reação alérgica, como ocorre com qualquer peçonha ou substância capaz de ativar o sistema imunológico. Por isso, o cuidado principal não é sair acreditando em “risco de morte em todo caso”, e sim entender que a picada pode piorar dependendo da pessoa, do local do corpo e da resposta do organismo.

Em crianças pequenas, idosos, pessoas alérgicas ou com condições específicas, a recomendação é sempre ter mais prudência e buscar orientação médica mais cedo.


O caso real que viralizou: a jovem picada enquanto dormia

Relatos chamam atenção porque quebram uma sensação de “segurança” — afinal, ninguém espera levar uma picada enquanto está deitado. Em 2021, por exemplo, uma jovem de 21 anos em São Vicente (SP) relatou ter sido picada por uma lacraia enquanto dormia, ficando com o lábio bastante inchado e precisando de atendimento médico. Depois, ela alertou nas redes sobre o susto e a dor que sentiu.

Casos assim costumam acontecer quando a lacraia:

  • entra por frestas e ralos

  • sobe em camas encostadas na parede

  • encontra esconderijo em roupas de cama guardadas

  • se abriga em ambientes úmidos, com pouca ventilação

É exatamente esse tipo de história que reforça a mensagem central: férias aumentam exposição e diminuem atenção. Você chega cansado, abre a mala, joga roupas na cama, deita… e esquece que o lugar estava fechado e pode ter “visitantes”.


Onde a lacraia mais se esconde em viagens: checklist rápido

Se você vai viajar (praia, sítio, pousada, casa alugada), pense como alguém que quer reduzir o risco nas primeiras 2 horas. Faça uma varredura simples:

1) Quarto e cama

  • afaste a cama da parede se possível

  • observe cantos, rodapés e atrás de cortinas

  • sacuda cobertores guardados

  • evite deixar roupas no chão

2) Banheiro

  • mantenha ralos fechados ou protegidos

  • observe se há frestas ou acesso fácil por baixo da porta

  • cuidado ao pegar toalhas que ficaram penduradas por dias

3) Calçados

  • olhe dentro e sacuda antes de calçar

  • atenção redobrada com tênis fechados, botas e sapatos guardados

4) Armários, caixas e depósitos

  • abra com calma

  • use lanterna do celular

  • evite colocar a mão direto em locais escuros sem ver o que tem

Esse checklist parece simples, mas evita a maioria dos acidentes.


Por que a picada dói tanto se o veneno é “pouco tóxico”?

Porque a dor não depende apenas de “toxicidade”. Depende de:

  • mecânica da picada (as estruturas perfuram e injetam substâncias)

  • inflamação local (o corpo reage com inchaço e calor)

  • local do corpo (dedos, lábios e regiões com mais terminações nervosas doem mais)

  • sensibilidade individual

Ou seja: mesmo que raramente seja algo grave, pode doer de verdade e assustar muito. E o susto aumenta quando a região incha rápido (como lábio, pálpebra, mão).


Prevenção de verdade: como reduzir o risco na prática

A prevenção é sempre o melhor caminho, porque evita dor, estresse e corrida para atendimento. Aqui estão medidas realmente eficientes:

1) Sacudir roupas e calçados guardados

Isso é básico e resolve muita coisa. Antes de vestir:

  • calça, jaqueta, moletom
  • meias guardadas
  • tênis e sapatos fechados
  • roupas de cama guardadas

Sacuda, vire do avesso se necessário e observe.

2) Luvas ao mexer com lenha, folhas e objetos antigos

Quer fazer churrasqueira no sítio? Pegar lenha? Limpar quintal? Use luvas grossas. Lacraias adoram:

  • pilhas de madeira
  • telhas
  • tijolos
  • folhas úmidas
  • vasos e pedras

3) Menos entulho, menos esconderijo

Organização é “antídoto ambiental”. Quanto mais bagunça e materiais acumulados, maior a chance de abrigo.

4) Controle de umidade e pontos de entrada

  • vede frestas em portas e janelas
  • atenção a ralos e caixas de gordura
  • mantenha áreas ventiladas
  • evite vazamentos

5) Atenção aos hábitos nas férias

  • não ande descalço em quintais e áreas externas à noite
  • cuidado ao sentar em gramados, pedras e troncos
  • use lanterna em ambientes escuros

O que fazer na hora da picada: primeiros socorros seguros

Se acontecer, o mais importante é manter a calma e agir de forma limpa e objetiva:

  1. Lave o local com água e sabão
    Isso reduz risco de infecção secundária e remove sujeiras.
  2. Compressa fria (pano limpo com gelo por cima, sem encostar gelo direto)
    Ajuda a aliviar dor e inchaço.
  3. Evite receitas caseiras perigosas
    Não use:
  • álcool diretamente no ferimento
  • produtos corrosivos
  • cortes, sucção, “furar para sair o veneno”
    Isso pode piorar e infeccionar.
  1. Observe a evolução
    Procure orientação médica se houver:
  • dor muito intensa que não melhora
  • inchaço grande ou progressivo
  • sintomas gerais (febre, tremor, suor frio, mal-estar)
  • sinais de alergia (falta de ar, urticária, inchaço no rosto/olhos/língua)
  • picada em criança pequena, idoso frágil ou pessoa com histórico alérgico

Se possível, registre o animal à distância
Não arrisque se aproximar para capturar. Uma foto segura pode ajudar na orientação, mas sua segurança vem primeiro.


Mitos comuns que só atrapalham

“Lacraia sempre entra pelo ralo”

Muitas entram, sim, mas elas também podem entrar por frestas, portas, janelas, rodapés e até vir em objetos trazidos do quintal.

“Se tem lacraia, é porque a casa está ‘imunda’”

Não necessariamente. Elas buscam umidade e alimento. Uma casa limpa pode ter lacraia se houver frestas, jardim úmido e presença de insetos.

“A lacraia é pior do que escorpião”

São animais diferentes. Em muitos cenários, escorpiões apresentam maior preocupação em saúde pública, mas isso não significa que a lacraia não cause dor e reações importantes em algumas pessoas. O correto é: ambos exigem prevenção e cuidado.

“Tem que fazer torniquete”

Não. Torniquete é perigoso, pode causar complicações e não é indicado nesses casos.


Como deixar casa de praia e sítio mais segura (sem neurose)

Se você tem uma casa que fica fechada por longos períodos, crie um “protocolo de abertura”:

  • abra portas e janelas para ventilar
  • varra cantos, atrás de móveis e rodapés
  • verifique ralos, áreas de serviço e banheiro
  • sacuda roupas de cama
  • inspecione sapatos e armários
  • remova entulho do quintal e folhas acumuladas

Uma rotina simples reduz muito o risco de encontros.


Atenção redobrada com crianças e pets

Crianças exploram o mundo com as mãos, sentam no chão e mexem em lugares onde lacraias se escondem. Pets cheiram cantos e podem tentar “brincar” com o animal.

Cuidados úteis:

  • manter brinquedos fora do chão em áreas externas
  • evitar que crianças peguem pedras e madeiras sem supervisão
  • não deixar potes de ração expostos à noite em áreas onde aparecem insetos
  • manter quintal limpo e iluminado

Conclusão: o verdadeiro “alerta” é a prevenção simples

O aumento de relatos nas férias não é coincidência: é o momento em que a gente se expõe mais, relaxa a atenção e entra em ambientes diferentes — muitas vezes fechados, úmidos e com esconderijos.

A picada de lacraia normalmente não é fatal, mas pode ser muito dolorosa, causar inchaço importante e gerar um susto enorme. A melhor forma de evitar sofrimento é aplicar as regras básicas: sacudir calçados e roupas, usar luvas em tarefas de quintal, reduzir entulho, fechar pontos de entrada e agir rápido com higiene e compressa fria se acontecer.

Se você vai viajar, pense nisso como um hábito de 30 segundos que pode evitar dias de dor e preocupação.

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